Por Vagner Araujo (@fvagner) - ex-secretário de Planejamento e Finanças do RN
O que não faltam são políticos dizendo que não estão preocupados com as próximas eleições, mas sim com as próximas gerações. Infelizmente, a realidade mostra o contrário. Gestores e políticos focam em obras e projetos de curto prazo, que causem efeito antes das próximas eleições. Medidas necessárias e às vezes indispensáveis para a responsabilidade fiscal, fundamentais para as próximas gerações, são deixadas de lado por medo de prejudicar o desempenho nas próximas eleições.
Essa visão pequena tem consequências graves. Obras estruturantes que poderiam trazer benefícios a longo prazo mas que requerem estudos, projetos, desapropriações, licenciamento e alocação de financiamentos, são negligenciadas. Esses processos são demorados e, por não trazerem resultados imediatos dentro de um único mandato, acabam sendo evitados.
Essa lógica política atual, carente de um mínimo espírito público, se transforma em um entrave ao desenvolvimento. Obras mais complexas, como saneamento básico, que demandam tempo e planejamento, terminam não sendo realizadas. Gestores preferem focar em iniciativas que ‘caibam’ dentro de seu mandato, ignorando as necessidades de longo prazo. Esse ciclo vicioso perpetua uma série de problemas crônicos que poderiam ser resolvidos com planejamento e visão estratégica.
A responsabilidade fiscal é outro exemplo clássico. Medidas impopulares, mas necessárias para garantir a saúde financeira de um município, são frequentemente evitadas. Políticos temem que a adoção de tais medidas possa prejudicar suas chances de reeleição. No entanto, a falta de responsabilidade fiscal pode levar a crises financeiras e sociais no futuro, impactando negativamente as próximas gerações.
Além disso, a falta de investimentos em infraestrutura de longo prazo, como estradas, pontes e sistemas de transporte público, também impede o desenvolvimento econômico sustentável. Essas obras não só melhoram a qualidade de vida dos cidadãos, mas também atraem investimentos e geram empregos. No entanto, a sua execução demanda tempo e recursos que muitas vezes não se alinham com os ciclos eleitorais.
Para mudar essa realidade, é essencial que a sociedade civil e as instituições exerçam uma vigilância ativa e cobrem dos gestores públicos uma postura mais responsável e comprometida com o futuro. A educação política da população também é fundamental para que eleitores compreendam a importância de projetos de longo prazo e não se deixem influenciar por promessas eleitorais imediatistas.
A política voltada apenas para as próximas eleições em detrimento das próximas gerações é um dos maiores desafios para o desenvolvimento sustentável de um município. É urgente uma mudança de paradigma, onde o interesse público e o bem-estar das futuras gerações sejam colocados acima dos interesses eleitorais imediatos.
Postado em 4/08/2024 às 12:00 - Artigo originalmente publicado na edição 1.878 do AGORARN
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