Por Esther Solano - Doutora em Ciências Sociais
O porém, neste caso, é que esses jovens engajados e conscientes sentem uma distância emocional de anos-luz da política partidária e institucional. Segundo eles, essa política é desonesta, superficial, desleal, charlatã, corrupta. É um erro de percepção meu, talvez uma obsessão, ou vocês também observam o lastro pegajoso do lavajatismo em todos os cantos da vida? Os políticos são estafadores, os partidos são obscurantistas hierárquicos demais, inflexíveis demais, pétreos demais, envelhecidos demais, dizem eles. A política institucional não fala ao jovem, não tem espaço para este, não tem espaço para a abertura, para a mudança, para o diferente, sentem eles. Confesso que entendo bem o que eles querem dizer, e eu mesma sinto com frequência grande rejeição a uma lógica partidária que parece privilegiar o passado ao futuro, ou o “eu “nós”, que não consegue acompanhar o ritmo da vida. Mas é a conclusão desses jovens o que me assusta e me entristece: se as políticas partidária e governamental estão longe demais, então elas não valem a pena.
Em vez de tentar tomar de assalto os partidos, colonizar os Parlamentos, exigir o que é dos jovens por direito, meus entrevistados se retraem à vida na esfera privada, à luta por causas nobres, mas que se encontram fora das instituições. Procuram a política fora dos partidos, fora das esferas de representação tradicional. Não acreditam nelas, então fogem, levando com eles o ar fresco, as ideias, a sensibilidade, a inteligência e sobretudo, o futuro e as possibilidades de mudança. A cada entrevista, entristeço-me um pouco mais. Fico triste porque escuto, encantada, uma juventude que me orgulha e que é uma versão melhorada de Brasil, mas que cai naquele odioso papo do “não sou nem de esquerda nem de direita”.
A vocês, jovens, escrevo hoje. Por favor, não desistam dos partidos, não desistam das Câmaras de Vereadores, das Assembleias Legislativas. Filiem-se, candidatem-se. Há jovens como vocês que estão lutando dentro das instituições para mudar as coisas. Não os abandonem, não deixem que eles sozinhos carreguem com a responsabilidade de mudar toda uma lógica política podre. O Brasil precisa de sua juventude.
Sim, o País precisa de vocês postando, nas redes, mensagens feministas, participando de tuitaço ou manifestação pela descriminalização da maconha, compartilhando hashtags e lutando em associações de bairro contra o genocídio dos jovens negros periféricos, mas também precisa de sua participação nos partidos, nos cargos eletivos, na luta contra este governo infernal e para evitar outro governo infernal. O Brasil precisa de seu sorriso, de sua capacidade, de sua força presentes em Brasília, arejando-a, em meio a política que vocês chamam de “a de sempre”.
Jovens, por favor, não caiam no papo-furado de que todos os políticos são ruins, iguais e corruptos, muito menos na lábia de quem estufa o peito para dizer: “Eu não sou político, sou gestor”. Não deixem que o decidam por vocês os rumos de suas vidas nem a de seu País. Não deixem que “os mesmos políticos sempre” roubem o seu futuro. Não desmoronem, não se desencorajem de mudar o que parece impossível. Não é impossível, acreditem. Aliás, os impossíveis sempre foram os grandes inspiradores da humanidade. Transformá-los em possíveis é a nossa mais nobre tarefa.
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Postado em 22/08/2021 às 21:00 - Artigo originalmente publicado na edição 1165 de Carta Capital
Postado em 22/08/2021 às 21:00 - Artigo originalmente publicado na edição 1165 de Carta Capital
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