Por Leonardo Sakamoto - Colunista do UOL
As constantes declarações são um indício de que nem ele tem tanta certeza disso.
"O presidente sou eu, pô. O presidente sou eu. Os ministros seguem as minhas determinações", afirmou Bolsonaro, nesta quinta (26), em frente ao Palácio do Alvorada.
Ele respondia a um questionamento sobre a declaração de seu vice, general Hamilton Mourão, de que o governo continuava com posição única, defendendo o "isolamento e distanciamento social" para combater a infecção. Bolsonaro, no já antológico pronunciamento-tragédia, de terça (24), defendeu a reabertura das escolas e do comércio e a quarentena apenas para idosos. "Pode ser que ele tenha se expressado de uma forma, digamos assim, que não foi a melhor", afirmou Mourão.
No "Baile da Máscara Cirúrgica", coletiva à imprensa, realizada no dia 18 de março, para tentar convencer a população que o presidente estava fazendo algo de útil nesta crise, Bolsonaro - depois de produzir um tutorial involuntário de como não usar uma máscara - tentou capitalizar no trabalho alheio.
Claramente ressentido pelo fato da mídia elogiar o trabalho do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e não o dele, afirmou: "se o time está ganhando, vamos fazer Justiça, vamos elogiar o seu técnico - e o seu técnico chama-se Jair Bolsonaro". Mandetta, por via das dúvidas, disse que "o presidente é o grande timoneiro desse barco".
Essa necessidade de autoafirmação em público não é de agora, mas se repete sempre que se sente ameaçado por algum subordinado.
A impressão é que ele acredita que precisa justificar o tempo todo o lugar que ocupa, talvez porque não se veja como alguém qualificado o bastante para a posição. Acha que foi indicado por Deus, certamente, mas isso é outra história que não tem a ver com competência técnica ou política. Lá no fundo, talvez acredite que, mais cedo ou mais tarde, alguém vai trata-lo como um impostor.
Afinal, como diria Baden Powell e Vinícius de Moraes, "o homem que diz sou não é".
Postado em 27/03/2020 às 06:20
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