Por Mariana Nassif
A gente não sabe o que vai acontecer, e uma dúvida desse tamanho faz tempo que não aparece na vida dessa minha geração, a de pessoas que completaram dezoito anos com o direito de votar. Pensa nisso: tenho quase quarenta anos e por mais que a política tenha sido assunto em casa, muito provavelmente por conta dos meus familiares jornalistas e politizados, não houve nenhuma outro momento onde tenha presenciado o questionamento do direito de escolher quem vai governar. Sério, nem no golpe a sensação foi tão ansiolítica, mesmo que não houvesse dúvida de que começaria ali, naquele acordo com o Supremo, com tudo, uma das sagas mais árduas da vida de cada uma das pessoas deste País.
Porque o golpe não foi político. Ele foi pessoal. Pessoal contra as minorias: os negros, os quilombolas, os indígenas, os pobres. Contra as mulheres, os gays e as pessoas que se abriram para receber toda essa gente que existe e, até pouco tempo atrás, era e se sentia invisível. Você já se sentiu invisível em algum momento da vida, qualquer que seja, mesmo que não tenha comparação com a invisibilidade tratada aqui? Pois é, dói. Então não me vem dizer que o golpe foi uma artimanha política, não: ele cutucou a ferida dessa gente toda e, acredite, tem gente que se importa com cada um deles.
Estas eleições têm sido um marco pra mim. Particularmente retornando à vida real após o nascimento pro Orixá, uma baita viagem dentro de uma religião que é também minoritária, me pego emocionada com os movimentos coletivos que encontrei aqui fora. Minhas primas e grandes amigas engajadas em conversar, em explanar, em informar e, então, para que estes dados chegassem em um maior número de pessoas, se articularam e se transformaram. Sentadas na rua, munidas de propostas e amor, trocaram idéias e enfrentaram a violência que estava sempre ali, em pelo menos alguns olhares dos opositores ainda não armados. É a tradução do e se der medo, vai com medo mesmo.
Observo meu microcosmo, mas acredito que do primeiro turno pra cá todos aprendemos lições importantes, especialmente a de não perder tempo: ouvi de uma fonte relevante que se tivesse mais uma semana, o amor vencia. Sete dias. Acho que aprendemos, especialmente, que política não se faz única e exclusivamente durante as eleições. Que a gente precisa falar sobre proposta, sobre posicionamento, sobre realização efetiva com todo mundo, inclusive entre a gente, porque de repente a gente também se sente votando em bando, só porque aquilo parece ser a melhor opção. E olha só onde isso está nos levando.
Escrevo da noite do sábado, ansiosa, respiração curta e pensamento longe, com medo como há tempos não sentia. Vontade de abraçar pessoas, de enaltecer o quanto são importantes na minha vida, lidando com humor com algumas saudades. " Te vejo na fila da fogueira", é a forma de me despedir pro caso do amor ficar em segundo lugar. Humor. Amor. Que a gente tenha uma noção básica para a segunda-feira após o resultado, seja ele qual for: cuidemos dos nossos. Estejamos próximos, de corpo e alma, e não deixemos de amar.
28/10/2018
Emoções de um domingo eleitoral
Postado em 28/10/2018 às 09:00 - Fonte: GGN
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