O compositor Caetano Veloso entrou na campanha anti-fascista com tudo na reta final das eleições brasileiras. Ele escreveu um artigo para o jornal americano 'The New York Times' cujo título é 'Tempos sombrios estão chegando ao meu país', pedindo "que minha música, minha presença sejam uma resistência permanente a qualquer característica antidemocrática que venha de um provável governo Bolsonaro".
No artigo, Caetano diz que "o sucesso de Jair Bolsonaro está diretamente ligado aos acontecimentos no Brasil nos últimos anos, como os protestos que tomaram as ruas em 2013, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e grandes escândalos de corrupção".
O compositor diz: "muitos artistas, músicos, cineastas e pensadores viram-se em um ambiente de ideais reacionários, que - através de livros, sites e artigos de notícias - têm denegrido qualquer tentativa de superar a desigualdade ligando políticas socialmente progressistas a um tipo de pesadelo venezuelano, gerando medo que os direitos das minorias irão corroer os princípios religiosos e morais, ou simplesmente doutrinando as pessoas em brutalidade através do uso sistemático de linguagem depreciativa".
E prossegue: "a ascensão de Bolsonaro como uma figura mítica cumpre as expectativas criadas por esse tipo de ataque intelectual. Não é uma troca de argumentos: aqueles que não acreditam em democracia funcionam de maneira insidiosa".
Caetano ainda lembra do processo de redemocratização brasileiro: "se alguém me dissesse na época que conseguíramos eleger Fernando Henrique Cardoso e depois Luiz Inácio Lula da Silva, teria soado como um sonho. E então aconteceu. A eleição do Sr. Cardoso e do Sr. Silva carregaram um peso simbólico gigantesco. Brasil ganhou mais respeito próprio".
E recorda do regime militar: "no final dos anos 60, a junta militar prendeu muitos artistas e intelectuais por suas crenças políticas. Eu era um deles, junto com meu amigo Gilberto Gil. Gilberto e eu passamos uma semana em uma cela suja. Então, sem nenhuma explicação, fomos transferidos para outra prisão militar por dois meses. Depois disso, quatro meses de prisão domiciliar até, finalmente, o exílio, onde ficamos por dois anos e meio. Outros estudantes, escritores e jornalistas foram presos nas celas onde estávamos, nenhum foi torturado. Durante a noite, porém, ouvimos os gritos das pessoas".
Por Alderi Dantas, 24/10/2018 às 23:43
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