Deixemos de lado poréns e todavias e analisemos o que é substantivo nessa história. Todos sabemos que a fé que o povo tem em São João Batista faz a festa em Assu há 291 anos e ao longo da história ela congrega multidões em torno da fé, da cultura e da alegria. Pincemos a peregrinação da imagem de São João Batista; as novenas – sempre lotando a igreja; a feira de São João (milho, feijão verde, galinha, jerimum, etc) – evento de sucesso ocorrido no passado na madrugada de um sábado dentro da programação da festa; as barracas de comidas típicas – grude, alfenim, pé de moleque, etc; a procissão de São João Batista; o pau de sebo da Princesa; o festival de quadrilhas junino; a decoração junina das ruas, residências e comércio; o almoço e, recentemente, o arraiá do jegue, a pedalada, a motoromaria, a cavalgada, o acorda “João”, etc, etc, etc. Gente, isso é, foi e será a festa de São João do Assú. Independe de cor e mandatário.
Mas, o que estamos vendo nesse São João? Vejo um show de atitudes e discurseira oca, que alimenta a estratégia do marketing político-partidário. Banda tal não vem, porque identifica-se com o gestor passado. A decoração das ruas não tem uma bandeirinha azul, porque essa era a cor do adversário. O “Boca da noite” abrindo a programação do São João é trocado pelo “Cortejo Junino”, porque a denominação anterior foi dada pela gestão passada. E assim o Assu vai se alimentando de um bate-boca fútil, que apenas retrata a pobreza de uma cultura política calçada no atraso da nossa festa junina e do município.
Gente, Assu não pode permanecer todo o tempo sob a égide de contínuo processo eleitoreiro. Há uma densa pauta a merecer atenção. Inclusive no aspecto religioso, completando outro objetivo: gerar renda a partir de uma visão de turismo religioso e de eventos.
A simbologia de colorir o céu de bandeirinhas vermelhas e verde apenas para mostrar quem é o dono do poder no município é, sem dúvidas, um ato pequeno e de atraso para uma população, que já vive amortecida pela violência, pelo convívio com a desonestidade e a esperteza.
Onde estão as grandes ideias, onde estão os programas, onde estão as prioridades da administração na grandeza do nosso São João e nos outros eixos da gestão? Qual é, por exemplo, a proposta para atenuar a fila de espera na marcação de exames? Como atrair novos investimentos e aumentar, no curto prazo, a oferta de empregos? Como colocar o parque social em condições de funcionamento conforme a necessidade da população – escolas, postos de saúde, saúde da mulher e saúde do homem, segurança, serviço de convivência e fortalecimento de vínculos de crianças e idosos?
Enganam-se os que pensam que bandeirinhas vermelha e verde os conduzirá a felicidade. O Assu e o nosso São João carecem de ideias grandes. E de gente que saiba transformá-las em fermento de desenvolvimento. Ver político tocar triângulo e/ou zabumba, montar em cavalo ou abraçar crianças, apenas para dar as caras, e manter o discurso programático arquivado, fazendo a população sofrer nas filas por uma consulta, um remédio, um exame, parece um repertório junino desanimador.
Por Alderi Dantas, 15/06/2017 às 19:00 - Foto: Alderi Dantas
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