07/08/2016

ARTIGO

A essência das coisas

Por Walber Gonçalves de Souza - Professor (Centro Universitário de Caratinga)

A evolução da humanidade, através de tudo aquilo que o ser humano inventou e desenvolveu, permitiu uma série de alterações na própria maneira de viver. As distâncias continuam as mesmas de um ponto a outro, entretanto tornaram-se “encurtadas” pelas intermináveis formas que podem ser percorridas.

Imaginemos uma viajem entre duas localidades, até um momento da evolução quem quisesse percorrer este caminho o faria a pé, com a domesticação dos animais, entre eles o cavalo que tornou a viagem menos cansativa e mais rápida; logo em seguida as carruagens, anos depois as motos, os carros e finalmente os helicópteros e aviões. Todo este avanço não diminuiu a distância entre as localidades, mas permitiu que ela fosse percorrida cada vez mais rápida. Quanto maior a velocidade, menos tempo teremos para contemplar tudo aquilo que se encontra no percurso, toda a riqueza estampada na paisagem que pode ser apreciada e/ou um tempo para pensar sobre si mesmo.

Quanto maior a correria em que nos encontramos, proporcionalmente, menos visão das coisas nós teremos e aí é que entra uma questão que não deveríamos perder de vista, o valor que devemos dar à essência das coisas.

O olhar rápido, a correria, em muitos casos acaba provocando uma visão superficial de tudo. E aos poucos vamos nos acostumando a ver tudo e não enxergar nada. É interessante como paulatinamente as coisas muitas vezes se modificam e nós não nos damos conta das mudanças, justamente pelo fato de não nos termos permitido enxergar as alterações.

É claro que não é somente este o motivo, a correria se junta a tantas outras razões que fazem com que aos poucos a essência das coisas passa a não ser percebida.

Assim, temos pressa ao almoçar e não sentimos o gosto da comida, pressa em beber e não apreciamos o que estamos tomando, pressa nas palavras e acabamos não nos comunicando… a pressa em tudo faz da vida uma viagem em que não percebemos os detalhes.

Para o famoso filósofo grego Platão, a essência de todas as coisas está no bem, no belo e no verdadeiro. Mas o que será que Platão queria dizer com esta afirmação? Vamos tentar deduzir o que se passava na cabeça deste homem milenar.

Há um ditado popular muito conhecido que diz “fazer o bem sem olhar a quem”. A arte de fazer o bem, de querer o bem, principalmente sem olhar a quem, não é uma prática fácil em tempos de egoísmo e individualismo. Mas para Platão é o primeiro passo para conhecermos e vivenciarmos a essência das coisas.

Outro ditado popular, com um viés platônico diz que, “a beleza está no olho de quem vê”. Mas o belo, para Platão, vai além da estética, da percepção visual… é popularmente conhecida também, pela aquela famosa expressão, é importante perceber a “beleza interior”. E isto significa valorizar a essência das coisas, treinar o olhar para perceber as coisas boas que a vida nos proporciona.

“Conheceis a verdade e ela vos libertará!”, Outra famosa e conhecida frase, usada mais nos aspectos religiosos, mas que carrega tudo aquilo que Platão também quis mostrar com os seus ensinamentos. Para Platão, o uso da verdade, ou procurar ser verdadeiro se faz necessário para mergulharmos na essência das coisas.

Assim, conclui-se que para o filósofo a essência não é o objeto, o fato ou a circunstância específica, mas sim, a forma como nos deixamos envolver com cada situação ou com um determinado objeto. Percebendo assim, o bem, o belo e o verdadeiro em cada situação.

Postado em 07/08/2016 às 21:00