Por Joacir Rufino de Aquino -
Economista, professor e pesquisador da UERNUma parcela expressiva dos estudantes que ingressam anualmente nos Cursos de Graduação das universidades do Rio Grande do Norte (RN) conhece relativamente pouco sobre a socioeconomia dos municípios onde residem. Nos últimos anos, mesmo sem realizar uma pesquisa detalhada a respeito, tenho acompanhado essa questão com preocupação, especialmente no âmbito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Isso porque a falta de um entendimento minimamente apurado sobre as peculiaridades do contexto local representa uma lacuna na formação cidadã dos nossos jovens do campo e das cidades.
Argumenta-se, com frequência, que a carência de conhecimentos formais dos jovens em relação à realidade socioeconômica dos municípios em que vivem refere-se ao seu desinteresse pelo estudo dos problemas locais. De fato, essa explicação precisa ser considerada, já que o fenômeno parece ser algo cada vez mais evidente. No entanto, a suposta “alienação juvenil” necessita ser encarada mais como resultado de um processo geral do que como a causa principal da situação, a qual deve ser buscada nos bancos escolares de cada território.
A hipótese é que os conteúdos básicos das matérias ofertadas nas escolas públicas municipais, estaduais e na rede privada, durante o ensino fundamental e médio, ainda se apresentam muito “descolados” dos espaços geográficos municipais onde essas instituições estão inseridas. Durante a sua fase formação, por exemplo, o aluno recebe ensinamentos sobre a geografia de todos os países mais importantes do mundo, mas praticamente não é informado sobre as particularidades geográficas do seu município. O mesmo distanciamento temático ocorre no que se refere à economia e a história locais.
No RN, de modo geral, ainda são raras as escolas urbanas que trabalham com material didático adaptado para discutir as questões socioeconômicas do lugar, a exemplo da economia, da pobreza, da urbanização, do meio ambiente, além de outros temas relevantes. No campo, apesar do avanço recente de alguns programas educacionais específicos, a situação é ainda pior. A criança e o jovem rural recebem lições e ensinamentos de livros didáticos elaborados segundo a realidade dos moradores das cidades do sul e sudeste, e, geralmente, são privados de conteúdos relacionados às especificidades do ecossistema semiárido e às características ambientais das atividades agropecuárias desenvolvidas em sua terra de origem.
Esse modelo educacional descontextualizado da realidade municipal e estadual, como se percebe, é extremamente limitado em muitas dimensões. Entretanto, ele pode ser revertido com vontade política, criatividade e investimentos públicos estruturantes. Atualmente, instituições como o IBGE disponibilizam na internet um conjunto de informações municipais de fácil acesso que podem ajudar a enriquecer os conteúdos das escolas públicas. Além disso, é possível encontrar de maneira rápida no site do IDEMA-RN e nas bibliotecas das universidades públicas e do IFRN um rico acervo de monografias sobre variados assuntos, que pode ser adaptado e trabalhado com crianças e adolescentes de todas as séries de ensino, contribuindo para mudar pelo menos parcialmente as cores do quadro apresentado.
Portanto, as secretarias municipais de educação potiguares têm muitos desafios a serem vencidos. A meta principal continua sendo democratizar e melhorar a qualidade do ensino público fundamental e médio ofertado em nossas escolas. Mas a luta não se resume a esse ponto fundamental. Paralelo a ele, sem abdicar do saber universal, é preciso também realizar um esforço planejado no sentido de “aproximar” os conhecimentos ministrados nas salas de aula com o contexto socioeconômico de cada localidade específica. Tal medida é um requisito indispensável para tentar formar uma geração de jovens mais participativos e antenados com os múltiplos aspectos sociopolíticos do meio social onde habitam, auxiliando, assim, na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada no solo norte-rio-grandense.
Postado em 14/02/2016 às 21:00