16/03/2014

ARTIGO

O potencial do turismo no Vale do Açu 

Por Joacir Rufino de Aquino e Augusto Carlos A. T. CarvalhoEconomistas e professores da UERN

A microrregião do Vale do Açu – constituída pelos municípios potiguares de Alto do Rodrigues, Assú, Carnaubais, Ipanguaçu, Itajá, Jucurutu, Pendências, Porto do Mangue e São Rafael -apresenta muitos potenciais econômicos, que não estão restritos apenas à fruticultura irrigada e a extração de petróleo. Entre eles, um que tem sido pouco aproveitado é o turismo, notadamente uma atividade de grandes perspectivas, especialmente quando se leva em conta a força dos seus impactos sociais diretos e indiretos.

Localizado em uma posição estratégica no mapa do Rio Grande do Norte (RN), o Vale do Açu reúne em seu território uma série de atrativos e amenidades, como, por exemplo, paisagens naturais, oferta abundante de águas correntes e represadas, patrimônio histórico, atividades econômicas, além do seu maior “tesouro” que é a diversidade de manifestações culturais da sua gente. Esses recursos, materiais e imateriais, possibilitam o desenvolvimento de múltiplos tipos de turismo: religioso, pedagógico, histórico-cultural, de aventura, rural, dentre outros segmentos perfeitamente factíveis.

O aumento do fluxo de pessoas para o território açuense, proporcionado pela dinamização de tais atividades, poderia gerar um efeito multiplicador do emprego e da renda positivo, beneficiando a população do campo e da cidade através do incremento da produção de alimentos, do artesanato, da indústria e do setor de comércio e serviços. O turismo, dessa forma, seria a inovação complementar que ajudaria a alavancar as atividades econômicas já estabelecidas no espaço regional. A ampliação da escala de produção ocorreria não para os produtos e serviços viajarem, mas para os consumidores viajarem até eles.

Se a cadeia produtiva do turismo apresenta todos esses benefícios potenciais, o que falta para ela deslanchar no Vale do Açu? A resposta a esta pergunta é simples e ao mesmo tempo representa um grande desafio que se refere, principalmente, aos limites relacionados à atuação do governo do RN e à dos gestores dos próprios municípios que compõem este espaço geográfico particular.

Em âmbito estadual, falta uma política de descentralização do turismo para além do litoral que banha a capital potiguar. Na verdade, o interior do estado sempre esteve fora da “visão” do centro planejador e muito disto se deve ao fato de que a concentração espacial é ótima para o “trade do turismo”. São destinos como Natal e Pipa, onde estão os grandes investimentos no setor, e, portanto, onde toda estratégia se reverte em concentrar a demanda (turistas), especialmente nesses anos de preparativos para a Copa do Mundo de Futebol 2014.

Já no que diz respeito às administrações locais, o problema é a carência de planejamento e incentivo para criar infraestrutura, divulgar a região, qualificar mão de obra e, acima de tudo, a falta de força política para enfrentar a disputa orçamentária com os grandes beneficiários do setor.

Cabe destacar que a atividade turística é de natureza complexa e envolve etapas que vão desde a decisão governamental em apoiar o segmento, até uma delicada orquestração de instituições e de atores para fazer com que de fato as ações se concretizem. Atrativos como a lagoa do Piató, a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o rio Piranhas-Açu, as belas dunas de Porto do Mangue, os casarões e fazendas históricas, entre outros, não serão convertidos em roteiros turísticos se não houver ações públicas efetivas para que isto aconteça. Isto porque não basta contar com alguma amenidade que atraia esporadicamente a atenção de visitantes, é preciso que as condições logísticas sejam postas para algo virar uma atração que possa se manter do ponto de vista econômico e ambiental.

Neste contexto, para transformar o potencial turístico açuense em realidade, compreende-se que a luta poderia começar em duas frentes. Uma delas se refere ao fortalecimento da união entre instituições e atores da microrregião para que possam ser convertidas em projetos efetivos às propostas do Polo Turístico Costa Branca, que, além do litoral norte, abrange também parte importante do sertão potiguar. A outra medida estratégica consiste em começar a proteger, recuperar e valorizar de forma mais responsável o patrimônio histórico e natural da área, que vem sendo degradado ao longo do tempo sem qualquer preocupação. Os bons resultados registrados nos territórios mais avançados em matéria de turismo ensinam que esse é o primeiro passo para que as diferentes ramificações dessa atividade possam florescer e, assim, contribuir para a promoção do processo de desenvolvimento local.

Postado em 16/03/2014 às 12:00

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