Nossos autores, nossos livros: nossa realidade
Por Lívio Oliveira - Procurador federal e escritor
Sou um hipersensível, um impressionável. E me impressiona muito mais o amor, a paixão e o desejo com que as coisas são realizadas do que os conceitos vagos e áridos de sucesso, riqueza, status social; até mesmo porque tudo isso está muito abaixo da arte, da grande arte que nos dá sentido à própria existência sobre esta terra difícil e plena de perigos. A literatura, uma das grandes artes, sempre me impressiona quando nela percebo o elemento mágico da entrega do escritor às palavras, como se fossem a última tábua de salvação do próprio autor e – por consequência – do leitor que a elas se apega. E termina sempre sendo isso. Assim é que o espaço que tenho dedicado à literatura em minha vida, como autor e como leitor, é mesmo esse lugarzinho bem guardado da paixão, o único aceitável nesse ambiente e “ofício”. Às vezes acerto, às vezes erro, mas estou sempre – ninguém venha negar – muitíssimo apaixonado.
A literatura potiguar, essa nossa parcela tímida e meio que ressentida e envergonhada no universo da arte literária do Brasil, tem sido marcada e se caracterizado pela paixão da maior parte dos seus escritores, que – apesar dos percalços, dificuldades e humilhações múltiplas – atravessam altaneiramente suas “vias-crúcis” periódicas para produzirem e lançarem seus rebentos literários, contando uma parte da nossa realidade, do que somos, do que almejamos e sonhamos ser. E somos todos uns heróis numa terra em que cultura e arte nem sempre são tratadas de maneira condigna, alimentando-se nestas plagas muitas vezes uma mentalidade de “coitadinhos” que há muito já devia estar superada, jogada na latrina da história. Não podemos mais nos basear, mesmo que honrados, na existência e louvação de apenas um ou de pouquíssimos nomes do passado. Precisamos ver o todo que compomos, analisando qualidades e pesando os defeitos, mas confirmando sempre que somos realizadores. Sim, somos. E cada vez mais. Faz-se urgente que pensemos como um “corpus”, uma pluralidade com razão e alma.
Neste ano que começa a se aproximar do seu fim já tivemos inúmeros momentos de resistência, dessa resistência consciente de que falo, com lançamentos diversos para públicos diversos (mesmo que relativamente diminutos) que se interessam e alimentam o prazer por nossas letras. Poderia citar nomes de muitos autores e obras da contemporaneidade, mas o espaço não os comportaria a todos e eu cometeria injustiças imperdoáveis, omitindo um ou outro. Então, vou procurar uma forma de síntese adequada para poder homenagear os nossos escritores neste artigo. Vocês, amigos leitores, podem esperar aí só o tempinho de eu passar pro próximo parágrafo?!
Ah! Encontrei! Ou melhor: o jovem apaixonado pesquisador e escritor natalense Thiago Gonzaga encontrou. Thiago lançou na terça-feira o seu livro de entrevistas “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos – Vol. I”, obra vasta que contém 40 entrevistas com escritores e realizadores do mundo das letras potiguares, numa primeira amostra (a obra deverá ter mais um ou dois volumes) de que possuímos uma diversidade literária no mínimo interessante por estas bandas de cá. Com essa obra Thiago permite, inclusive, um diálogo respeitoso com os nossos nomes do passado e que merecem lembranças e homenagens sempre, além de trazer uma convicção (subentendida ou expressa) de que devemos valorizar o que produzimos na atualidade, até mesmo para que tudo isso guarde algum sentido no futuro. Afinal, a palavra detém sempre algum forte sentido histórico, ético e estético. E precisamos, sim, conhecer nossos discursos literários e os seus autores. Toda sociedade que se quer reconhecer como evoluída precisa dessa maneira de se traduzir e se interpretar em busca de alguma identidade. Essa nova e muito bem-vinda obra nos ajudará, certamente, nessa elevada e mais do que necessária reflexão.
Postado em 10/11/2013 às 12:00
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